‘Posta no Instagram isso que você falou, me marca e coloca vários corações’
Guilherme Fiuza
– Feliz Ano Novo!
– Como assim?
– Ué? Feliz Ano Novo. Estou te desejando um Ano Novo feliz.
– Em que sentido?
– Bem… No sentido que for melhor para você.
– Ah, então é um desejo genérico.
– Genérico? Estou desejando a você, não a qualquer pessoa.
– Ok, mas a felicidade que você está me desejando é genérica.
– Felicidade é felicidade.
– Não é, não. Há felicidades e felicidades. Se você não especifica, está mostrando que não sabe o que é felicidade para mim.
– O importante é que você saiba.
– Tá vendo? Já se descomprometeu.
– Não é um comprometimento. É um desejo. Sincero.
– Desejo que você não sabe exatamente qual é? Isso não é desejo. É formalidade.
– Repito que o meu desejo de que você tenha um feliz Ano Novo é sincero. Acho que não cabe a mim determinar como será o seu ano. Espero que ele seja bom pra você.
– Ah, então o “feliz” já virou “bom”? Pelo visto seu desejo não mais o mesmo…
– Desejo que o seu ano seja bom e que isso te faça feliz.
– Muito cômodo. Solta uma palavra de bondade e vira as cosas.
– Não virei as costas.
– Mas vai virar. Assim que eu te agradecer, ou burocraticamente retribuir, você vira as costas. E eu que vire com o meu “Ano Novo”.
– Você está dizendo que o meu voto de feliz Ano Novo não vale nada para você? Tudo bem, posso retirar.
– Eu sabia que isso ia acontecer. Na primeira oportunidade, a “bondade” vira pó. Dá muito trabalho se ocupar com a felicidade alheia, né?
– Dá trabalho problematizar a felicidade.
– Estou dando a oportunidade de tentar uma relação menos superficial com a ideia de felicidade e você responde com patada. É muito ódio.
– Eu só queria te desejar feliz Ano Novo.
– Ser feliz é muito relativo. Quem ama cuida. Quem se importa se envolve. Estamos diante de uma escalda preocupante de falta de empatia. Já te dei várias chances para provar que é empático e você não aproveitou nenhuma.
– Ok. Então você pode me ensinar a ser empático?
– Se você estiver realmente aberto a se modificar, tudo bem.
– Estou aberto. O que tenho que fazer?
– Posta no Instagram isso que você falou.
– “Feliz Ano Novo”?
– É.
– Só isso?
– Não. Me marca e coloca vários corações.
– Quantos corações? Meia dúzia?
– Melhor uma dúzia.
– Fechado.
– Feliz Ano Novo.
FONTE: FIUZA, Guilherme. Como ser feliz em 2025. Revista Oeste, edição 249, 27/12/2025.
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