Miguel Angel Mesa Bouzas
“Pare de falar. Você não vê que quando você fala
você extingue o amor com o barulho
vão de suas palavras?
Você não sente, quando está em silêncio,
que o amor ilumina com silêncio
a noite de sua alma?”
(José Bergamín).
É realmente difícil comunicar a esta sociedade em que vivemos o valor do silêncio. E não só os jovens, porque acreditamos que são eles que não aguentam um momento sem ouvir música, sem ver um filme, sem falar no celular, sem jogar no computador… Eles não podem ter um único momento livre sem fazer algum tipo de atividade. Esta é a verdade, via de regra.
Mas o mesmo acontece com os adultos, em grande medida, porque também nós nos deixamos levar por essa maré de barulho e ocupação permanente, para não ficarmos calados, pensando, respirando, voltando-nos para nós mesmos. Ainda temos na memória do nosso cérebro os silêncios em locais públicos, para ler um livro, quando observamos obras de arte, quando entramos numa igreja, ou nas nossas profundezas pessoais…
Não pretendo ser mais papista do que o papa. É impossível reverter essa deriva tecnológica. Mas o desafio deve ser combinar o uso de mídias audiovisuais, virtuais e eletrônicas, juntamente com espaços de silêncio para simplesmente sentir nossa respiração, nossos batimentos cardíacos, a circulação do sangue, o oceano e o eco de fundo que traz memórias e nos convida a sair para o mar.
Porque é positivo, bom e saudável para nossa psique e nosso corpo, para nossa vida espiritual e nosso relacionamento com os outros. Porque se não conseguirmos parar por alguns minutos todos os dias, silenciar tanto barulho, publicidade, violência, medo, sofrimento, passar tudo pelo crivo do coração, nos encontraremos cada vez mais distantes de nossa identidade mais profunda e autêntica. Viveremos de uma concha, de um disfarce, de um outro eu, que não nos permitirá descobrir o eu mais verdadeiro, aquele que realmente somos, um eu descentrado, aberto, contemplativo e comunicativo, sereno e apaixonado, comprometido e livre, espiritual e corpóreo ao mesmo tempo.
O silêncio é como uma sinfonia silenciosa, um diálogo sem palavras, um olhar que contempla com atenção e que acolhe tudo com imensa alegria e o conduz de volta ao vale da serenidade, superando o medo de estar sozinho e em silêncio consigo mesmo. É necessário para a saúde interior desligar o rádio, a televisão, a internet, o celular de vez em quando, para refletir por um tempo em silêncio sobre os acontecimentos cotidianos.
Aqueles que vierem para acolher o silêncio em suas vidas, sentirão como uma fonte serena flui pouco a pouco, ainda que já esteja latente dentro deles, para sentir profundamente dentro de toda a humanidade e de todo o universo. Ali é necessário contemplar em silêncio, escutar em silêncio, para saber valorizar e acolher a iluminação e a sabedoria que provêm desse mesmo silêncio.
Não há felicidade maior do que deixar-se convidar pela solidão e pelo silêncio e ir ao seu encontro, transformar-se a partir de dentro, ser cada dia mais afável, usar as palavras certas em cada situação, que só vêm do ventre materno e amoroso do silêncio.
“Felizes são aqueles que sentem o silêncio como uma sinfonia silenciosa, um diálogo sem palavras,
o próprio coração que é olhado com atenção e acolhido com imensa alegria”.
Descubra mais sobre (In)Formação
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
Leave a Reply