(In)Formação

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Universo interior

“Tu estavas dentro de mim e eu estava fora, e por isso te procurei do lado de fora”
(Agostinho de Hipona)

Miguel Angel Mesa Bouzas

Entrar na vida interior é como se estivéssemos a juntar-nos a uma expedição de espeleólogos, que entraram numa gruta antes inexplorada, em que a luz é tudo para poder andar, mas por vezes as pilhas da lanterna acabam e temos de as substituir no escuro, não nos mexermos, e deixarmo-nos guiar pelos sons,  as águas subterrâneas, a brisa do ar… Para conseguir descobrir novos caminhos, pinturas surpreendentes, estalactites e estalagmites, que unem o céu da caverna com a terra da caverna, talvez uma saída para outro lugar onde possamos receber com alegria, novamente, a luz do sol.

Os problemas que continuam a ser sofridos em nossa sociedade, apesar dos sacrifícios, dos cortes, da redução de direitos que nos são impostos, principalmente os mais desfavorecidos, não deixam de continuar propondo a saída dela, que consumamos mais, como a única linha reta para que haja mais desenvolvimento. E o consumo irresponsável e desenfreado só nos faz sair, mas não para ir ao encontro do outro, mas apenas para a loja física ou virtual onde podemos satisfazer nossos desejos mais imediatos.

Ninguém vai propor que reflitamos, que perguntemos quais são as nossas principais necessidades, que passemos pelo crivo da nossa vida interior todos os nossos desejos e sonhos. E que, acima de tudo, nos sintamos livres para decidir o que realmente precisamos, sem acumular justiça com os mais desfavorecidos, que deficiências e obrigações temos, conosco mesmos e com os outros.

Quando mantemos um diálogo próximo, cordial, amigável e profundo com o outro que nos acompanha ou com quem nos encontramos, deixando falar os corações e os sentimentos, percebemos como nossa felicidade e nossa humanidade se expandem. Essas conversas e encontros devem se tornar parte de nossa vida interior, saboreá-los, refleti-los, digeri-los, alimentar-nos e dar frutos. A partir daí encontramos a nossa identidade mais íntima, que se transforma ao mesmo tempo com as experiências de vida que recolhemos ao longo dos caminhos que percorremos todos os dias, diferentes, únicas.

Quando a experiência profunda da vida interior nos leva a nos isolar, à tristeza, a esquecer os problemas das pessoas, essa prática não é positiva e causa os efeitos opostos ao que se pretende. A incursão na vida interior deve produzir, como proveito e benefício, um encontro maior e alegre com os outros, uma relação mais fluida e cordial, um compromisso de sentir com os outros as suas tristezas e as nossas alegrias.  Portanto, o fortalecimento de nossa vida interior só faz sentido se nos ajudar a melhorar nosso modo de ser, se tornar nossa humanidade mais humana, em contato e íntima, união vital com os outros.

O cultivo permanente e cuidadoso da vida interior, da espiritualidade, segundo José Arregi, “pode ser válido para os nossos dias, porque precisamos de nos libertar do medo e reconciliarmo-nos conosco mesmos; porque o que temos, o que sabemos, o que podemos fazer não é suficiente para nós; porque precisamos continuar acreditando no bem apesar de todos os males que fazemos e sofremos; porque é necessário continuar esperando ativamente em outro mundo melhor”.

“Felizes são aqueles que tentam contemplar e penetrar em suas profundezas pessoais, para ser verdadeiramente o que procuram: eles mesmos.”


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