Miguel Ángel Mesa
“Utopia” também pode significar “bom lugar” (eu-topos).
Caminhar com direção já é um bom lugar,
e caminhando assim chegamos constantemente a inúmeros lugares bons
que tornam a vida estimulante e boa”
(José Arregi).
É difícil anunciar hoje que os novos tempos que vivemos, com a economia em frangalhos e a esperança de pessoas que não estão entre as elites do poder empresarial, especulativo e político, exigem novos paradigmas e, portanto, uma mudança radical para que fatos como esses não voltem a acontecer, planejados para destruir direitos, eliminar conquistas sociais e incutir medo na população, para que não saiam de suas casas e permitam que a classe política, completamente dependente do atual poder econômico, que tudo controla e administra, faça o que bem entender.
Mas não podemos deixar nossas vidas nas mãos dos outros. Sem mencionar nossas esperanças e sonhos. Eduardo Galeano diz isso, como sempre, com uma linguagem compreensível, poética e mobilizadora:
«A utopia está no horizonte. Eu dou dois passos, ela se afasta dois passos e o horizonte se afasta dez passos. Então qual é o sentido da utopia? É para isso que serve caminhar.
Sim, porque quando ficamos parados estamos perdidos. No caminho, o objetivo já está presente de alguma forma, a doçura do triunfo, a companhia nos momentos de alegria ou de solidão. No passo a passo de cada dia, podem-se intuir os frutos maduros de uma possível fraternidade.
O esforço deste caminho não precisa nos tornar mal-humorados, duros ou exigentes. Pelo contrário, a beleza da paisagem, com seus vales e montanhas, suas fontes e represas, as florestas e prados, os amigos que te acompanham, as pessoas que você conhece em cada nova cidade por onde passa… tudo nos convida ao diálogo, à compreensão, ao cuidado e à atenção nos momentos difíceis, ao sorriso para aliviar a tensão e ao riso juntos para nos sentirmos vivos.
Em momentos de dor, sofrimento e falta de ideais, tendemos a nos refugiar no passado, para não parar e olhar o que está ao nosso redor e à nossa frente. É, por isso, que não temos alternativa senão refrescar e recriar nossos sonhos e esperanças com o orvalho de cada manhã. Com o testemunho e os escritos de tantos homens e mulheres que, ao longo da história, não se deixaram derrotar pelas circunstâncias adversas da vida, em tempos e circunstâncias muito mais difíceis do que as que vivemos hoje. Homens e mulheres do passado e do presente, porque hoje também podemos encontrar verdadeiras estrelas em nosso firmamento escuro, que podem nos ajudar a avançar, despertar e regenerar utopias, a partir da concretude da vida cotidiana.
“Há apenas um lugar onde ontem e hoje se encontram,
se reconhecem e se abraçam.
Esse lugar é amanhã”
(Eduardo Galeano).
Porque as utopias não são o irrealizável, mas sim o modelo ideal sobre o qual devemos construir, na realidade de hoje, a justiça, a paz, a fraternidade e a liberdade. Para que nossas mãos e espíritos não fiquem dormentes, para que não percamos nossa paixão ou entusiasmo, nem percamos nossas esperanças. Conquistar as pequenas vitórias de cada dia, que são possíveis de serem alcançadas “golpe por golpe, passo a passo”, e que às vezes parecem inéditas e até milagrosas.
“Felizes aqueles cujos sonhos nunca lhes tiram o sono, se sonham acordados.”
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