Quando uma pessoa está iludida ou foi iludida, ela não está desperta. Ao contrário, está adormecida e sem clareza para enxergar quem é
Monja Coen
Havia um monge zen, há muitos anos, que todos os dias ao acordar chamava a si mesmo: “Zuigan!”. E ele mesmo respondia: “Hai” (sim, em japonês). “Você está aqui?”, tornava a perguntar, e “Hai”, de novo respondia. “Então desperte. Não seja enganado por ninguém.” Lembro-me dessa história e penso que todos nós podemos manter esse tipo de diálogo interior para estarmos despertos e não sermos enganados por ninguém, nem por nós mesmos e não sofrermos desilusões.
Lembrando que a desilusão só ocorre se houver ilusão. Quando uma pessoa está iludida ou foi iludida, ela não está desperta, está adormecida, sem clareza para ver, sentir, perceber e atuar. Portanto, se esse é o seu caso, respire. Você pode, eu posso, nós podemos. Somos o passado e o futuro se manifestando no presente. Somos seres desta era e dotados de capacidade para lidar com as situações desta era.
O ódio e o preconceito. A violência e as guerras. A ansiedade e a desesperança. As queimadas e o aquecimento global. Se despertarmos, podemos alcançar a cura. A dor fugiu com a cura, e o curador ficou de mãos vazias, olhos perdidos no infinito. Olhos de peixe morto – embaçados.
“Levanta, menina, está na hora.”
“Hora de quê?
“De levantar.”
“Para quê?”
“Para tomar café e ir para a escola.”
“Não quero. Estou doente.”
Os olhos de peixe morto assombram sua imaginação. Essa dor tem cura? Mas se ambas fugiram juntas… Ou teriam se esgueirado separadas, como ectoplasmas atravessando portas, espaços, buracos de fechaduras. Fechar com dureza.
A fechadura tem um buraco, por onde curiosos espiam. Na fechadura se coloca uma chave que tranca a porta. Por isso é um fechar duro? E quem espia pelo buraco da fechadura é um espião, um curioso, um brincalhão ou um ladrão, um mentiroso, um mascarado do bem ou do mal?
Lembro-me de um menino que às vezes ficava agitado e dizia: “Hoje vou aprontar. Estou com vontade de aprontar.” E aprontava. Roubava, mentia, escondia. Depois chorava. Será que se arrependia? Gostava de brincar de ser bandido, de estar preso. Engraçado. Esteve preso como adulto, mas eu só soube depois que saiu da cadeia. Cadeia de encadear, maltratar, reeducar, para o bem ou para o mal. Depende de cada detento, da reeducação e da capacidade de receber da meninada. Curar dos vícios, da vontade de aprontar.
As palavras brincam comigo e eu as deixo brincar. Afinal, elas têm mais poder do que eu mesma. Corram, encontrem a cura e a dor, por favor. E as palavras saíram voando e se perderam no azul.
Há palavras pulsantes e palavras vazias. Apenas palavras. Está na hora de procurar um curador que seja curandeiro ou uma instituição. Quem instituiu a ação?
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