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O avanço científico mais notável de 2024, de acordo com a ‘Science’

Uma injeção semestral com eficácia quase perfeita promete transformar a prevenção do HIV, mas seu impacto dependerá do acesso global. 

Sérgio Parra 

Durante décadas, o mundo viu um progresso considerável na luta contra o HIV, mas um desafio permaneceu: a criação de uma vacina. No entanto, em 2024, a ciência nos surpreendeu com o que pode ser o próximo grande marco na batalha contra esta doença: o lenacapavir, uma injeção com eficácia sem precedentes que protege por seis meses com uma única dose. 

Na verdade, este tratamento promissor foi elogiado como o Avanço Científico do Ano pela revista Science devido aos seus resultados espetaculares. Não surpreendentemente, um grande ensaio clínico, realizado em junho, mostrou que a administração de lenacapavir reduziu a zero as infecções por HIV entre adolescentes e mulheres jovens na África. 

A esperança renovada de um mundo sem novas infecções 

A chave do lenacapavir está em sua capacidade de ser administrado a cada seis meses como profilaxia pré-exposição (PrEP), o que facilita a adesão ao tratamento e reduz os obstáculos relacionados ao estigma e à dinâmica social, principalmente em países com altas taxas de infecção. 

Ao contrário dos medicamentos antivirais convencionais, o lenacapavir atua na proteína do capsídeo do HIV, uma estrutura que protege o material genético do vírus. Durante anos, essa proteína foi considerada um alvo inatingível para intervenção farmacológica. No entanto, uma nova compreensão de sua estrutura e função permitiu que os cientistas da Gilead Sciences desenvolvessem um composto capaz de endurecer o capsídeo viral, impedindo assim que o HIV infectasse células humanas de forma eficaz. 

Um salto do passado para um futuro esperançoso 

A luta contra o HIV percorreu um longo caminho desde a década de 1990, quando a infecção era uma sentença de morte marcada pela devastação do sistema imunológico. A introdução de terapias antirretrovirais em 1996 revolucionou o tratamento, permitindo que milhões de pessoas vivessem com o vírus como uma doença crônica controlável. Além disso, a descoberta de que uma pessoa tratada não pode transmitir o vírus fez do “tratamento como prevenção” o avanço do ano em 2011. 

No entanto, os desafios permanecem. Embora os medicamentos orais da PrEP, como a pílula aprovada em 2012, tenham se mostrado eficazes, seu uso em países com poucos recursos tem sido limitado. Em muitas partes da África, mulheres jovens e adolescentes enfrentaram barreiras significativas para a adesão ao tratamento. A chegada do cabotegravir, medicamento que pode ser injetado a cada dois meses em 2021, ofereceu uma melhora, mas seu alto custo impediu sua adoção em massa. 

O progresso na redução de novas infecções por HIV estagnou, afastando o mundo das metas ambiciosas estabelecidas pelo UNAIDS: menos de 370.000 novas infecções em 2025 e 200.000 em 2030. No entanto, descobertas recentes com lenacapavir podem ser um ponto de virada. 

O desafio de levar o lenacapavir ao mundo 

Apesar de seu potencial transformador, a implementação global do lenacapavir enfrenta vários obstáculos. O acesso a esse tratamento depende da regulamentação, preço e infraestrutura de saúde de cada país.  

Embora a Gilead tenha estabelecido acordos com fabricantes de genéricos para oferecer versões acessíveis em 120 países em desenvolvimento, regiões de renda média como o Brasil, com a maior carga de HIV na América do Sul, podem ser excluídas desses benefícios. Além disso, os sistemas de saúde sobrecarregados e a falta de recursos em muitas partes do mundo dificultarão sua distribuição e adoção. 

 

FONTE: National Geographic


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