Tem dedos na cauda, um capuz com o qual recolhe comida … o que é exatamente esse molusco misterioso?
Sarah Romero
O aspecto desse animal recém-descoberto é diferente de tudo já que vimos até agora, muito menos, na chamada Zona da Meia-Noite do oceano, que é uma região localizada entre os 1.000 e 4.000 metros abaixo da superfície do oceano e que está envolta em escuridão perpétua (a luz não pode penetrar nessas profundezas).
Embora seja uma zona onde a água é muito fria (cerca de 2 a -4ºC), uma grande variedade de vida vive por lá. Muitas delas são capazes de produzir luz por meio de reações químicas (bioluminescência) para poder se comunicar, dissuadir predadores ou caçar presas. Agora, um novo habitante desta área oceânica extrema foi finalmente desmascarado e oficialmente chamado de Bathydevius caudactylus. Ele foi observado pela primeira vez no ano 2000 por um veículo operado remotamente (ROV) do Instituto de Investigação do Aquário da Baía de Monterrey (MBARI), na Califórnia (Estados Unidos) e apelidado como “molusco misterioso”, devido à sua grande raridade.
Que tipo de animal é esse?
Na verdade, é que apesar de ter sido observado há quase 25 anos, foi somente agora que os cientistas conseguiram cataloga-lo adequadamente. Colocaram-no no “galho” da árvore da vida que lhe corresponde. A razão é que uma criatura muito estranha (uma reminiscência do caso do ornitorrinco que, inicialmente os cientistas não sabiam o que dizer sobre ele, combinando qualidades confusas no mesmo animal).
A nova espécie, detalhada na revista Deep Sea Research Part I: Oceanographic Research Papers, é uma lesma do mar que mostra uma série de adaptações únicas como ter bioluminescência, uma cauda franjada que se parece com dedos ondulando na corrente ou um curioso capuz gelatinoso que usa como uma grande rede para capturar alimentos. Na verdade, os pesquisadores verificaram a partir das imagens e vídeos capturados que ele lança pequenas iscas brilhantes na escuridão para distrair os seus predadores.
“Graças à avançada tecnologia submarina do MBARI, fomos capazes de preparar a descrição mais completa de um animal de águas profundas já feita. Nós investimos mais de 20 anos para compreender a história natural desta fascinante espécie de nudibrânquio. Nossa descoberta é uma nova peça do quebra-cabeça que pode ajudar a entender melhor o maior habitat da Terra”, explica Bruce Robinson, cientista sênior do MBARI, que liderou o estudo.
Qualidades únicas
Depois de coletar alguns animais e estuda-los em laboratório, eles não tiveram dúvidas de que era uma lesma do mar, da ordem dos nudibrânquios (como o famoso dragão azul que pode infligir uma picada dolorosa e perigosa), que podemos encontra-los em muitas formas, cores e estilos de natação variados. Nesse caso, seu corpo mede 14,4 centímetros de largura e brilha na escuridão. Mas esta lesma do mar não só se destaca por estas características, mas também porque ostenta o recorde de ser a primeira lesma marinha, que se sabe, que vive na coluna de águas profundas (e se alimentar de crustáceos).
“Sabíamos de algumas espécies que vivem no fundo do mar, mas nenhuma havia sido relatada em águas intermediárias”, esclarecem os especialistas, que detalharam a anatomia, a respiração, a bioluminescência, a genética e o comportamento, no trabalho recém-publicado, em uma das descrições preliminares mais completas até o momento.
Fonte: National Geographic
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