As pereiras dão peras. Não é novidade. Estranho seria  se as pereiras dessem maçãs. Mas esta não é uma história vulgar. 

Efetivamente, na pereira para onde nós apontamos a história não nasceram maçãs nem uvas nem romãs. Nasceu apenas, entre outras peras que não mereciam especial atenção, uma pera e peras. Enorme. Gigantesca. Uma senhora dona pera. 

– Parece uma abóbora – disse o dono do pomar para a mulher. – Se não a ampararmos, parte o tronco. 

A pereira gemia ao peso da pera fenomenal. Toda inchada para um lado, também era um fenômeno que ainda se não tivesse partido. 

Para reequilibrar a árvore, o dono do pomar trouxe um banco que pôs debaixo da pera. Assim apoiada, a pera cresceu e engordou que metia impressão. 

– É uma pera sentada num banco – diziam as outras peras, umas invejosas. 

A notícia da pera gigante chegou aos ouvidos do rei. Até lhe contaram que a pera era tão grande, tão majestosa, que para ela tinha armado um trono, à beira da árvore donde provinha. Uns exagerados. 

– Se ela é a rainha das peras tem de vir para a mesa do rei – ordenou o monarca, que era um glutão, talvez até o rei dos glutões. 

Trouxeram-na numa padiola, suportada por dois homens. 

O rei, que estava no desfecho de um banquete – só faltava a fruta –, o rei espantou-se. 

– Descasquem-na – ordenou. 

Três criados, armados de grandes facas, demoraram uma hora na operação. A pera sumarenta e suculenta foi posta numa imensa travessa, diante do rei. 

– Ainda cá estou – disse o rei, espreitando por trás da pera. 

Já não era o rei, mas a pera que presidia o banquete. Todos os cortesões olharam para a cabeceira da mesa, aguardando a continuação da história. 

O rei pegou numa colher e espetou-a na polpa da pera. Depois, provou. Provou e fez uma careta. 

– Está verde – disse. 

Um Ah! de desolação prolongou-se, em coro, pela mesa fora. 

– Está verde – disseram todos os cortesões, fazendo um ar muito desconsolado. 

A pera tinha sido colhida antes do tempo. 

Por culpa da precipitação do rei, que exigira a pera à sua mesa, ninguém se preocupara em saber se a pera já estava na conta. E, agora, era tarde. Não podiam voltar a pendurá-la na árvore. Era uma pera desperdiçada. Era um enorme desperdício. 

Enterraram-na no jardim, depois de os jardineiros terem cavado um fundo buraco. 

Anos depois, floresceu uma pereira naquele sítio. Como? Porquê? A memória do rei e dos cortesões era muito curta. 

Mas o príncipe, filho do rei, passou por ali e colheu uma perinha madurinha. Provou. Gostou. E não se esqueceu. 

Passou a pedir para a sobremesa as peras daquela pereira do jardim. 

O príncipe cresceu. Ganhou corpo. Fez-se um belo rapaz, um moção desempenado e atlético. Generoso, risonho, afável. E são como um pero. Ou uma pera… 

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