Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói 

É comum ouvir que certas pessoas são a alma da festa: transbordam alegria contagiante por onde passam. 

Mas, também é comum ouvir que essas pessoas transbordantes fazem esforços descomunais para não dar mostras dos vários lados que a vida lhes cobra, sobretudo, o lado da dor. É que também elas têm problemas, embora, jurem que não os tenham. Apresentam sempre um rosto alegre, descontraído, jovial.  mas isso pode esconder necessidades profundas. 

Sabemos que a vida não é fácil, e há um lado dela do qual queremos escapar. Nem sempre, porém, a solução das angústias se encontra num rosto bem cuidado, que não permite revelar o quanto estejamos interiormente perturbados por ansiedades e medos avassaladores, preocupações relativas a doenças, finanças, problemas de trabalho, discussões familiares… 

O melhor de ser a alma da festa é continuar sendo a alma da própria festa, mesmo estando sozinho. 

Evitar qualquer forma de solidão indica o medo de que, nessa situação, os problemas reprimidos venham à tona. Se o meio de evitar a solidão for se atirar a atividades, empreendimentos, sociedades, trabalhos paroquiais, organizações de caridade… Ok. Tudo isso é bom, também. Mas, só isso, cansa e esgota, a si mesmo e aos outros. 

Algumas euforias lembram um potente farol aceso na estrada escura: à frente, toda luz; atrás, toda treva. Esconder ansiedades torturantes por detrás da fachada de “alma-da-festa” pode levar ao desânimo e à desistência, bem no meio dos projetos que não chegaram a termo. 

Há quem prefira a amplidão à profundidade. 

Pode ser bom. A menos que não passa a vida toda voando feito borboleta, de flor em flor, num voo trêmulo, que nunca se decide onde irá se sentar. Sem mais nem menos, pode levantar voo, e ir atrás de outra flor. 

______________________ 

FONTE: DIAS, Dom Jose Franciso Rezende. A alma da festa. In. Jornal A Tribuna. Niterói: Editora Esquema, ano LXXXIV, n, 35.183, 27/05/2020, pág. 2 

 

Obrigado pelo seu comentário!